Resistência ao neocolonialismo em Madagáscar
Madagáscar é uma ilha que se localiza na costa sudeste do continente africano que, durante a segunda metade do século XIX, foi alvo da ambição colonial dos ses e, em consequência disso, foi transformada em uma área de colonização. Os ses, a partir de um lobby da elite colonial do país, desestruturam e destituíram o governo que estava instalado em Madagáscar. Essa ação desencadeou movimentos de resistência pelo país africano.
Madagáscar no século XIX e a ação colonial dos ses
Durante o século XIX, o Reino de Madagáscar procurou meios de garantir sua soberania, assim, em 1820, assinou com os ingleses o Tratado Anglo-Merina, que lhe garantia o reconhecimento internacional de uma das maiores nações do mundo. Outra potência da época, a França, somente firmou um acordo parecido com Madagáscar quatro décadas depois.
Desde a década de 1860, Madagáscar ou a ser governado pela rainha Ranavalona II e pelo primeiro-ministro Rainilaiarivony, os quais implantaram um projeto modernizador no país. A intenção dessa modernização visava, principalmente, organizar a istração e o exército do país para transformar Madagáscar em um “Estado civilizado”. Esses esforços, no entanto, não agradavam parte da elite colonial sa.
O interesse dos ses na região intensificou-se a partir da década de 1870, impulsionado por um forte lobby promovido por parlamentares da ilha de Reunião, localizada no Oceano Índico. A elite dessa ilha intentava colonizar Madagáscar para poder enviar-lhe seu excedente populacional, assim como garantir o o a seus recursos.
Esse interesse também era compartilhado por republicanos ses, que aram a defender mais abertamente a expansão dos domínios coloniais do país, e também pela direita católica, interessada em combater o avanço do protestantismo em Madagáscar, que avançava pela ação de missionários britânicos.
Para justificar sua investida sobre esse país, os ses evocaram o discurso da “missão civilizatória”, que foi utilizado como uma justificativa comum por nações europeias durante o processo de neocolonialismo. Assim, a propaganda colonial sa afirmava que Madagáscar era um local “selvagem” e “atrasado”.
O propósito francês de colonizar Madagáscar acabou gerando alguns desentendimentos com o governo malgaxe por questões econômicas, forçando a ilha a pagar altas indenizações aos ses. Rainilaiarivony, percebendo a má-fé dos ses, ou a realizar compras de armamentos e munições. Esses gastos levaram a um aumento de impostos, o que afetou a popularidade do governo malgaxe.
Guerras contra a França
Percebendo as intenções sas no país, o governo malgaxe enviou diplomatas em busca de apoio internacional. Contudo, a missão dos malgaxes fracassou, pois nenhuma potência ocidental quis comprometer-se com Madagáscar e ir contra os interesses ses. Sem o apoio esperado, Madagáscar foi atacada pelos ses em maio de 1883, iniciando a Primeira Guerra Franco-Merina.
Durante esse conflito, os ses deixaram evidentes suas intenções em transformar a ilha africana em seu protetorado. Esse conflito estendeu-se até dezembro de 1885, quando um cessar-fogo foi assinado e Madagáscar foi obrigada a pagar uma multa de 10 milhões de francos aos ses. Essa nova dívida, somada aos gastos na guerra, destruiu a economia malgaxe e levou o governo local ao descrédito.
A instabilidade do governo de Rainilaiarivony e a crise econômica provocaram uma onda de banditismo, principalmente nas regiões interioranas do país. A desestabilização de Madagáscar foi utilizada pelos ses como pretexto para reforçar o desejo de transformar o país em uma colônia sa.
Com isso, uma nova guerra foi travada a partir de 1894, que consolidou o domínio dos ses sobre Madagáscar. Nesse sentido, a Segunda Guerra Franco-Merina transformou esse país em uma colônia da França e destituiu o governo que estava instalado.
O domínio dos ses na região, no entanto, não aconteceu sem resistência. Além de lutar contra a reação do próprio governo malgaxe em duas guerras, os ses precisaram lidar com um movimento popular, que recebeu o nome de Menalamba em referência à cor da roupa dos rebeldes malgaxes, coberta de terra vermelha como forma de camuflagem.
O movimento dos menalamba atuava nos arredores da capital Antananarivo, em uma região conhecida como Imerina. Esse movimento lutava contra os dominadores ses, mas também contra as elites malgaxes e defendia o fortalecimento das tradições religiosas locais. A rebelião menalamba foi controlada tempos depois pela repressão sa. Outros movimentos de resistência surgiram depois em Madagáscar, porém o país somente reconquistou sua independência em 1960.
*Créditos da imagem: Aurelie e Shutterstock
